Encontro com o Silêncio
Em uma noite escura e solitária penetrei na selva e despertei no silêncio que ali havia e pude conversar com ele, e ele me disse: "O que buscas?" E eu lhe respondi: "Busco alguém que me faça companhia e penso que és tu". E ele me disse: "Sim, não percebes que contigo anda a solidão e enquanto ela esteja contigo não posso acompanhar-te?" E eu lhe disse: "Ah!, mas se deixo a solidão, tu me acompanhas? " E ele me respondeu: "Se deixas a solidão, busca o silêncio que ele guiar-te-á ". E eu lhe disse: "Mas..., por acaso não és tu?"
Então me disse: "Sim, eu sou o silêncio, porém das noites, do campo e do espaço, e tu tens que buscar teu próprio silêncio. Ele guiar-te-á até o que buscas ".
Eu não entendia em sua totalidade o que queria dizer-me.
Sentado em uma pedra fria e com a umidade da noite e diante de tão enigmáticas palavras fui entrando em um mundo diferente.
Observei... A solidão já não existia em mim, só havia uma intensa paz e um silêncio muito profundo e eu me disse: "Quando sair daqui, encontrarei novamente a solidão, a essa personagem que é tão má companhia, aquela que faz minha mente, minhas emoções e meu instinto reagirem e que, por razões muito humanas, busco alguém que me faça companhia para falar com ele o que não devo; escutar também sua história; afastando-nos os dois desta realidade e caindo desgraçadamente na confusão de uma humanidade desenfreada, onde cada um conta uma verdade fictícia, onde cada um diz ter razão; onde se busca fazer um reino com o dinheiro, com o poder e os prazeres, fugindo da verdade por nossas debilidades ".
Eu, sentado nessa pedra fria, fazia-me todas estas interrogações e me perguntei: "Encontrarei alguém que com uma mente fria e reflexiva escute meu relato?" E a resposta que me dei foi que seria muito difícil, mas talvez não impossível e nesse mesmo instante me disse: "Para contar este relato em meu caminho a todas as pessoas que encontre, é muito caro para mim", e em minha imaginação criadora, disse: "Não o conto, o escrevo para que algum dia e em algum lugar esta história possa chegar às tuas mãos, querido leitor ".
Mas aqui não termina meu relato.
Depois que passaram todas as minhas perguntas, disse ao meu silêncio interior: "Olha, meu amigo, se volto em meu propósito, que dor, olha o que me espera; se sigo adiante, o que tens para acompanhar-me? " E ele me respondeu: "Irás te encontrar contigo mesmo, com tua realidade, com a beleza de teu mundo interno, com o imperecível, e para não te roubar mais tempo te direi que, lá no fundo, encontrarás a Verdade, mas não uma Verdade fictícia, uma Verdade que dirá o que fostes, o$ue és e o que serás ".
Então lhe disse, levantando-me daquela pedra fria: "Em que direção sigo meu caminho?" E ele me disse: "Não, ...fica quietinho que quando teu corpo está quieto o Espírito anda. Segue adiante!"
Voltei e sentei-me, e disse ao meu silêncio: "O que faço agora?" O silêncio não me respondeu, simplesmente indicou-me que seguisse sentindo.
De repente senti que meus sentidos e meu coração se conjugavam em um só para contemplar aquela paisagem semeada e cultivada pela Grande Realidade, fora do tempo, do peso e da distância.
Eu me dizia: "Qual será a razão que me obriga a viver no mundo das formas, da densidade e do tempo? "
Nesse momento, compreendi: "E que também estou submetido à pena
de viver!"
Voltei e interroguei-me, e me disse: "Se todas estas coisas belas e lindas que contemplo, a aura dos mundos, me iluminam, quem fez tudo?"
E, nesse instante, vi a essa Grande Realidade, a essa Grande Verdade que, com sua Graça e com seu Amor, enchia de êxtase e de um Samadhi sublime a parte interna de todas as criaturas que nos encontramos submetidas por nossa imperfeição aos mundos e às leis.
Adorando profundamente aquela Grande Verdade, regressei ao mundo das formas e exclamei com grande voz: "Qual é a Verdade que neste mundo discutimos?"
O Mundo Rechaça a Verdade
Depois de alguns anos conhecendo a mensagem Crística e com muita insistência tratando de difundi-la e vivendo o rechaço das massas com ela, decidi entrar no Templo para, em oração e meditação, perguntar qual a razão pela qual a humanidade não está disposta a aceitar essa Verdade.
Passou um dia, passaram-se dois, talvez três, quando vi que na praça de uma grande cidade se amontoavam as pessoas cantando e declamando a um Rei do Mundo.
Aquele Rei tinha muitas caras, tantas quanto as pessoas que lhe seguiam.
Para cada pessoa que se aproximava, ele usava suas próprias palavras, seus próprios gestos e, por conseguinte, seu olhar.
Cada pessoa que com ele falava, expressava seu sentimento e admiração, e dizia: "Eu o entendi, com ele me sinto bem ".
Indignado e um pouco impulsivo dizia-me: "Não é possível! Não posso identificar este personagem. Quem será? Tem tantas caras! Quero falar com ele, porém... qual será seu verdadeiro rosto? Não quero que me engane como a estes pobres miseráveis que não perceberam que, com a cara que fala a uns, não é a mesma com que fala a outros", e me disse: "Vou falar-lhe".
Aproximei-me... Minha saudação foi: "Como está o senhor?"
E ele me respondeu: "Muito bem, me sinto como Rei deste povo".
E eu perguntei-lhe: "Quem te fez Rei e como me demonstras? "
E com grande orgulho e vaidade me disse: "Fez-me Rei o mundo e
para cada uma destas pessoas tenho minha própria verdade".
E lhe disse: "Há muitas verdades? Por acaso... não há uma só? "
E ele me respondeu: "Cada pessoa tem uma verdade, depende como
lhe fale".
E eu lhe perguntei: "A verdade, por acaso não é Deus? "
Eufórico e soberbo replicou-me: "É verdade que tu não crês que eu,
para esses imbecis, não sou seu Deus? Eles fazem o que eu lhes imponho e
vivem como eu quero, porque crêem em mim, têm fé em mim; quando
delinqüem e se portam bem comigo, lhes perdoo ".
Eu lhe respondi: "Não comparto com tuas ideias; tenho em minhas
mãos a Mensagem Crística que redime o homem ".
Ele, enfurecido, chamou a multidão e lhe disse: "Destruam esse
imbecil que quer eliminar-me ".
Refleçoes
Alguém se aproximou e lhe disse: "Com que arma ele quer eliminá-lo?" E ele lhe respondeu: "Com a verdade unida em uma só. Isso seria catastrófico para meu sistema. Eu manejo a ignorância das massas para que, com minhas palavras e minhas caras, as faço ver o mundo como minhas
verdades".
Eu, nesse momento, me pus reflexivo mas não derrotado.
Disse a mim mesmo: "Tenho que saber quem é este personagem ".
Fui penetrando nas esferas superiores do conhecimento e compreensão e compreendi que esse personagem manejava a política do mundo e, por conseguinte, aos políticos que, sem consciência e sem alma, enganam a um povo que se reveste com sua própria ignorância e se deixa impor, como disse um poeta, "aquelas verdades amargas que, em lugar de serem doces, são
fel".
Novamente, indignado e cheio de coragem, aproximei-me do
personagem em menção e lhe disse: "Canalha, embusteiro, mentiroso! Tu enganas este povo, esta humanidade porque não busca Deus e crê nas
pessoas".
E me respondeu: "Isso que tu dizes é falso, porque toda esta gente
busca a Deus, sim!"
E eu lhe disse: "Como o demonstras? "
E ele demonstrando seu poder sobre o povo, disse às multidões: "Meu povo! Demostremos a este imbecil e covarde onde está meu poder. Vamos à Igreja, vamos rezar e dali sairemos fortalecidos para seguir lutando e levando a este povo o poder, porque eu sou o Rei".
Nesse momento vi as pessoas entrarem em suas Igrejas para pedir ao Deus de sua crença para que seu Rei triunfasse, e eu me dizia: "Que triste é ver uma humanidade em decadência espiritual, divorciados, em sua totalidade, desse Deus-Criador, pedindo nos altares que seu candidato ou seu rei da terra triunfe, não querendo perceber que esse personagem ou personagens estão a serviço de um reinado do mundo que é diametralmente oposto ao reinado do
Cristo, que é do Céu".
Os reis do mundo manejam a humanidade com violência, com
fome, com exploração, com ameaças e com sangue.
O reino do céu maneja seu povo, seus filhos, com abundância, com Amor, com Paz e com Sabedoria...
As Duas Faces da Cidade em que Vivemos
Viajando por este longo caminho da vida, aprendendo dela o que considerei que servia-me e o que poderia servir a esta irmã querida que tenho que se chama a HUMANIDADE, vi muitas coisas, como a que em meu relato tratarei de ilustrar.
Entrando em uma grande cidade quis conhecer os lugares mais destacados do governo, dos religiosos e dos endinheirados.
Ficava verdadeiramente maravilhado e dizia-me: "Tantas coisas boas que se pode fazer com a vontade e o dinheiro! Que cidade tão bela! Carros de último modelo, reinados, beleza, grandes investimentos feitos para mostrar uma cidade avançada!" E dizia-me: "Se estes são atributos próprios desta cidade e destas pessoas, quero viver aqui".
Fiz os preparativos para fazê-lo, mas me disse: "Vou conhecer melhor esta cidade e as pessoas",
Fui atrás do Palácio do Governo e ali vi desordem, violência e pobreza.
Fui atrás da Igreja mais luxuosa da cidade e encontrei muita gente mendigando umas migalhas de pão, sem um batismo, sem uma nacionalidade porque careciam dos recursos físicos e econômicos.
Quis visitar a prisão e encontrei centenas de pessoas que, por violarem a lei, ali se encontravam; e me disse: "Haverá hospital?"
Busquei-o e entrei nele e encontrei um grupo de médicos lutando com centenas de doentes, porém sem recursos; isto me decepcionou e fui ao parque desta cidade fazer-me as seguintes perguntas: "Lástima desta cidade tão bela, porém sem justiça, porque o Governo não vela pêlos desprotegidos! Lástima desta cidade tão bela, porém sem amor, porque os religiosos não querem ver esta miséria humana. Sem dúvida predicam em nome de Deus, ensinam seus dogmas em nome de Deus, discriminam as pessoas em nome de Deus, perseguem as pessoas em nome de Deus, caluniam as pessoas em nome de Deus, se enriquecem em nome de Deus e, o pior de tudo, é que ao ignorante lhe impõem um Deus antropomórfico como eles querem que seja e não como é!"
Vendo esta miséria humana, disse: "Como nesta cidade há tanta discriminação, vou buscar um lugar para compartilhar com os pobres umas migalhas de pão, uns remédios e sobretudo um lar".
Para isto elegi a infância desamparada e a uns quantos deles levei desnutridos, maltrapilhos e ignorantes. Mas sabe, querido leitor, qual foi minha surpresa? Um dia qualquer alguns religiosos da cidade reagiram e se lançaram
em busca daquelas crianças e as encontraram onde já tinham lar, tinham saúde, tinham alimento. Foram tirá-los alegando que lhes pertenciam por sua religião; por ser um património herdado de geração em geração, vivessem como
vivessem. s
Isto me chamou à reflexão e quis saber seu profundo conteúdo. Meditando e compreendendo nisto, cheguei à seguinte conclusão: "Esses personagens sustentam um império no mundo e assim como a planta do jardim se alimenta de adubo para dar flores e embelezar os campos, assim estes sistemas e pessoas necessitam do ignorante e do pobre infeliz que se debate na miséria para poderem, sobre estes escombros da sociedade, levantar e mostrar ao mundo seu imenso poder".
Irmão leitor, a sociedade se divide em diferentes níveis e sistemas, os quais só servem para acrescentar a dor, a ignorância e a violência. Minha reflexão é que:
"O homem sábio deve ser livre para poder guiar-se pela voz interna de sua consciência e chegar algum dia a encontrar a origem do que foi, do que é e do que aspira ser... ".
Análise e Compreensão do Caminho
Em todo este ir e vir das coisas chegaremos cada um de nós a diversas conclusões:
O mundo não está composto de um sistema senão de muitos sistemas e isto é lógico, tem uma resposta. São associações psicológicas do mundo para reunir, por afinidades, a todas as pessoas que nele habitamos.
Quando alguém compreende isto, vê a necessidade de produzir, dentro de si, seus sistemas de trabalho e de vida; por conseguinte, submete todos seus atos e seus feitos à análise e à compreensão.
No caminho da vida, nos encontramos com pessoas que vão e outras que vêm. Nós não podemos dizer que vamos, nem que vimos. Tudo depende do que perseguimos, do que buscamos.
Em cada extremo deste caminho se encontra um objetivo do que podemos decifrar assim: "O céu ou o abismo ", portanto, quando uma pessoa vai do céu para o abismo e se encontra com outra que vai em sentido contrário, o mais usual é dizer: "Este vem e eu vou, ou vice-versa, porém... de onde vem e até aonde vai? "
Alguém sentado frente a um Altar viu que um Anjo descia e disse: "Aquele Anjo vem", porém o Anjo, olhando a quem estava no Altar, disse: "Aquele homem vem ".
Quem ia a quem?
Querido leitor, você pode dizer que o Anjo vinha ao homem; também poderá dizer que o homem ia até o Anjo, porém a realidade é que eram duas consciências que se buscavam entre si por uma lei de afinidade.
O Demônio não pode vir até nós se em nós não existe seus Eus afins.
Nós não avançaríamos até o Demônio se em nós não existissem essas criaturas infernais que executam o mal.
Estando Shu, Kiu e Wu em profunda meditação, Shu disse: "Vou observar um pensamento", Kiu disse: "Eu vou observar o pensador", e Wu disse: "Interessa-me mais quem pensa".
Quando Shu viu o pensamento, viu que flutuava sobre a cabeça de Kiu; quando Kiu quis observar o pensador, viu que flutuava sobre a cabeça de Wu; quando Wu quis observar aquele que pensava, observou que sobre a cabeça dos três divagava uma teoria, uma idéia e urna leitura.
Em qual das três está a razão?
E Shu respondeu: "Das três podemos formar uma escola. Com a teoria ensinamos o que pensar".
Kiu disse: "Com a ideia impomos o princípio", e Wu disse: "Com a leitura os confundimos".
São três sábios que querendo investigar o mesmo, descobriram o assento de um dogma para por a raciocinar todos seus crentes.
Deixaram isto para quem não queria investigar, para que outros o impusessem se queriam e nasceu para o mundo um dos grandes passa-tempos sem fundamento, sem doutrina e sem Amor; e eles se disseram: "Continuemos até que tenhamos encontrado o que, em si, nos vá dar iluminação", e Shu disse: "Quero investigar o espaço", e Kiu disse: "Quero investigar o vazio", e Wu disse: "Quero penetrar no silêncio".
Shu, em êxtase, foi-se ao espaço e não encontrou nada que lhe fizesse oposição e disse: "Aqui está a Liberdade".
Kiu, em êxtase, foi-se ao vazio e não encontrou oposição e disse: "Aqui está a Liberdade"; e Wu, em êxtase, foi-se ao silêncio e ninguém o perturbava senão seus próprios movimentos e disse: "Aqui está a Liberdade".
Regressaram todos de sua viagem, cada um com suas conclusões. Shu disse: "A Liberdade está no espaço", Kiu disse: "A Liberdade está no vazio" e Wu disse: "A Liberdade está no silêncio", e os três escreveram:
"O Espaço nos dá a Liberdade, o vazio nos dá a Iluminação e o Silêncio nos dá a Integração com Deus".
Falando com meus Sentimentos
Meditando nestas coisas da vida, quis decifrar meus sentimentos e descobrir o que busco, o que quero e, sobretudo, o que me serve, porque acredito que todos os meus semelhantes também buscam no enigmático da vida algo que lhes responda a isso que nem os pensamentos, nem os sentimentos lhes deram.
Subi as montanhas e andei nas planícies; li na história as façanhas dos Próceres; conheci a amargura dos mais desventurados e, por fim, convenci-me de que ninguém me daria a resposta que minha consciência necessita.
Foi assim que resolvi sentar-me às margens de um riacho cristalino e puro para vê-lo deslizar, produzindo seu natural arrulho.
Dentro dessas águas se moviam centenas de peixinhos que, sem raciocinar em nada, ali se alimentavam e eu me disse: "Por que serei assim como sou, tão racional, tão pessimista e sobre tudo com tão pouca fé? "
Resolvi lançar-me às águas e nadar como os peixes.
Tomei e tomei tanto delas que saciei minha sede. Logo saí dali e empreendi minha viagem à montanha por um caminho rochoso e difícil, tentando chegar até o cume e dali divisar as planícies e também elevar-me até o espaço como as aves voadoras e contar a todos os que encontrava que se tomassem, das águas puras desse rio, acalmariam a sede para sempre e poderiam empreender a viagem à conquista das alturas; compartilhar com as aves voadoras; extasiar-se com o perfume dos campos e presenciar o amanhecer de um novo dia.
Nessa viagem longa e sem regresso, conversar frente a frente com a terra, com as águas, com o ar e com o fogo e dizer-lhes que deles sou parte, mas que, por vontade divina, elevar-me-ei às esferas e tocarei a harpa cantante que dar-me-á as notas de minha orquestrada voz e com este arrulho elevarei minha alma até os pés do Arquiteto dos dias... DEUS!
V.M.LAKHSMI
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